Nos
dias de hoje os conceitos de verdade e moral encontram-se desunidos entre si e sobretudo
naquilo que são as normas e comportamentos da convivência humana, ou seja, se a
ética é a (pre)posição da moral, podemos verificar que no mundo de hoje, essa
noção e tendência está bastante sombria, pois se por um lado a ética trata o
conjunto de normas que devem ser postas em prática, a moral é assim, ou deveria
de ser, a concretização e a condição desse pressuposto.
O papel da Santa Igreja na sociedade
ganha novos contornos quando nos apresenta Jesus Cristo como o Caminho, a
Verdade e a Vida (cf. Jo14, 2-6). Sabendo que a ética procura o anseio e a
fundamentação pela plena qualidade vida e bem-estar, é-nos proposto seguir e
conhecer o Cristo Ressuscitado como concretização de vida eterna. Porém, para a
sociedade de hoje, a verdade está sobre aquilo que é palpável, fútil e sobre
aquilo que é tomado como visivelmente seguro, não havendo margem para a dúvida
e se possível, ser controlado à sua conveniência. Por essa razão, Deus deixa de
assumir um papel como o centro de vida da pessoa.
Estas correntes modernistas, que
surgiram logo após ás grandes revoluções, surgem como tentativa de negação
sobre a lei natural, como se tudo não tivesse a sua própria razão de ser
(metafísica), todavia, do nada, nada vem, não pode existir o acaso no plano de
Deus. Por outro lado, se há afirmação de que não acreditam naquilo que
(co)participadamente da lei natural, possa ser essa lei moral «natural»,
cai-se, portanto, naquilo que é moralmente inseguro, isto é, num
empírico-ceticismo, daí a ânsia e o desejo profundo de realização e
concretização.
A intervenção de Deus é continua e
permanente mesmo para além do acontecimento fundamental da história da salvação
– Paixão de Cristo. Deus não tem história porque está para lá dos limites da
temporalidade inerente ás coisas criadas e de nada adiantaria a revelação ao
homem se este não a aceitar, e sem a aceitar, a revelação de Deus não seria
possível. Para melhor consolidar o mistério em volta de todo sentido pleno da
vida, algo que todos procuramos e ansiamos, apresentamos nesta encíclica de São
João Paulo II, a figura de Jesus Cristo como a «imagem do Deus invisível, o
primogénito de toda a criação» (Col1, 15) para colocar fim a toda uma filosofia
modernista e estoicista.
A pergunta que se coloca é a
seguinte, de que modo podemos confirmar e centrar toda a moral numa «metafísica
natural», já que nos dias de hoje mais parece que essa metafísica se centra e
se baseia, na simples busca comum do dia-a-dia.
Ora se Deus, que é "Pai de
Nosso Senhor Jesus Cristo", escolheu-nos antes da criação do mundo, para
sermos santos e imaculados aos seus olhos, o Homem é incapaz de conhecer a Deus
por si mesmo, porque não pode transpor a barreira que o separa d´Ele, é
demasiado pequeno e débil para o conseguir, e só Deus pode quebrar com as
barreiras que existe entre o Homem e Ele mesmo, entre a morte e a vida enquanto
tal. Movido pelo Seu amor, Deus "desce" à humanidade que tem a Sua
máxima expressão na pessoa de Jesus.
A vida humana só é perfeita nesta
perspetiva salvífica por intermédio da pessoa de Jesus Cristo que pelo Seu
mistério Pascal, pela Sua morte e ressurreição, se torna o culminar de todo
sentido e desígnio da existência humana, percebemos cada vez mais, à medida que
o tempo passa, que graças a Deus os acontecimentos são sempre maiores que as
palavras, ainda mais quando essas palavras se revelam, se mostram, e se dão
como um sinal de esperança para o mundo. No seio da teologia moral, essas
palavras são a Palavra encarnada – Jesus, centro de vida cristã.
Segundo a interpretação de Paul
Ricoeur, em que estabelece a relação entre aquilo que é a metafísica, como
aquilo que é apresentada ao homem através da palavra, e este, por sua vez, ser
a resposta favorável – a moral. Para o autor a ficção não é um irrealismo, ela apresenta-se
à própria razão, não é puramente ilógico. No fundo, se quisermos sintetizar,
diremos que o Ser se apresenta ao Homem como uma verdade ontológica e cria uma
conexão entre aquilo que nos transcende e aquilo que podemos apreender pela
revelação que «se faz carne».
Para Michel Henry, a existência e o
sentido da vida encontra-se e está no modo em como se vive, que é o mais
importante e, por excelência, procedente do Ser, como que fonte de todas as
coisas. Só neste sentido, se percebe a vida, o comportamento de todas as coisas
(o agir) e a lógica do Ser, ainda que incompatível com o ser do «eu», é,
portanto, inseparável, ou seja, existe uma relação de complementaridade e interdependência.
A vida surge pelo mesmo modo em como todas as coisas foram feitas, isto é, o
mundo foi criado na perspetiva da ressurreição, nasce e renasce para a vida,
assim o homem, fruto da criação de Deus, é feito para a ressurreição em Cristo.
É aqui o modo autêntico de vida plena.
O autor destaca a imanência de Deus
no mundo, num plano em que para ser acessível e compreendido, assume a figura
humana na pessoa de Jesus de Nazaré, em quem toda a revelação de Deus se
consuma – «o Verbo fez-se carne e habitou entre nós»
(Cf.Jo 1,14). Jesus confirma aos discípulos que estaria connosco até ao
fim dos tempos, isto supõe que Ele é o mesmo Deus que esteve com Moisés, que
falou pelos profetas, que fundou a Igreja e que enviou o Espírito Santo para
dar continuidade à Sua obra aqui na terra.
Como membros da Santa Igreja, é
proposto, em contraposição à cultura positivista e liberalista enraizada na
sociedade, dar o que melhor se tem: a perspetiva salvífica de Deus na pessoa de
Jesus como pleno modelo de vida eterna. Se no início, o Antigo Testamento
apresentava coisas imperfeitas, não porque Deus faça coisas imperfeitas, mas
porque pela sua condescendência, se adapta à imperfeição do homem e lhe vai
dando a mão para o conduzir ao mais perfeito – à vida plena e em abundância, é
como um professor que primeiro ensina as letras, depois junta-as, lê e escreve
até que finalmente esse aluno vai para a faculdade e essa faculdade é Jesus
Cristo – Novo Testamento, o qual ressuscitando traz uma novo sentido de vida.
Atualmente, a noção de verdade na
nossa cultura, é relativa e subjetivista, longe dos preceitos de Deus. A Igreja
não pretende condicionar a liberdade das escolhas de cada um, mas dá espaço,
tempo para reflexão criando na pessoa, a verdadeira liberdade, suscitando na
pessoa a alegria da vida eterna em Cristo, colocando o Homem longe de todas as
opressões e anseios mundanos.