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sexta-feira, 10 de abril de 2020

A vida Critica de Paulo - Da sua origem até ás consequências da sua conversão.


Paulo cresce na cidade de Tarso, uma cidade turca com um certo prodígio no ponto de vista da sua fertilidade e prosperidade, em que a sua localização geográfica contribuísse para tal, pois era a ponte e o porto entre grandes cidades vizinhas, e, portanto, desenvolvia-se de forma favorável e natural. Apesar do seu meio social ser bastante distinto, marcada e afetada pela Helenização, abarcava outras culturas e ensinos diferentes, era conquanto uma cidade estruturada e civilizacional, daí o seu encanto. Paulo como que rodeado de várias ascendências e influências conhece e reconhece as culturas vividas na época, o que ser-lhe-á útil na sua caminhada.
No que diz respeito à educação, formação e conhecimento, acredita-se que era proveniente de família judaica, Paulo afirma-se, seguro e convictamente, como sendo Judeu, embora educado e não criado em Jerusalém, é descendente de família Israelita alumiado de conhecimento, amor à Lei e fidelidade à Tradição. “São Hebreus? Também eu. São Israelitas? Também eu. São descendentes de Abraão? Também eu.” (2Cor11,22). Cresce sob essa Tradição, vive sob as raízes e os seus costumes, inclusive é circuncidado ao oitavo dia conforme os judeus da Diáspora.
            Paulo é uma pessoa conservacionista da Lei, é extremamente fiel à tradição de seus pais, não diz muito de si mesmo, a não ser pelas cartas, e isto revela talvez que a sua preocupação em relação à missão de anunciar a Boa-Nova era maior que a sua própria vida, “Ai de mim se não Evangelizar” (1Cor 9, 16).
            Antes de iniciar a sua jornada, Paulo, homem inteligente que era, tem a brilhante ideia de se proteger e precavem-se recorrendo legitimamente o direito de ser romano, isto é, acredita-se que os parentes de Saulo (nome romano) tenham conquistado de algum modo essa espécie de licença genealógico-romana a que ele pertence, não pelo facto de serem provenientes romanos, mas por os seus parentes e judeus lutarem do mesmo lado por aquilo que lhes pertencia. Acredita-se, portanto, que o prémio e recompensa vitoriosa da soberania romana destaca-se como por exemplo, a atribuição de segurança face aos julgamentos, benevolência face ás impiedades romanas e por isso terem direito de gozarem sem conflito a sua fé. Por outro lado, fornece uma certa importância social, permitindo chegar mais longe para além do baixo clero, pois nem todos fruíam dessa “medalha de honra”. Crê-se, portanto, que de algum modo seria o seu objetivo, não ficar à margem nem à observância do simples e genuíno povo.
            Em adulto leva consigo tudo aquilo que sabe e aprendeu em Tarso, não era homem de viver à custa de ninguém dado que pelos locais onde pausava, ele sabia a arte de fazer tendas e procurava trabalho nesse âmbito. As culturas viventes na sua cidade natal, foram certamente um forte contributo dado que sabia falar e interpretar a língua grega - língua primitiva, o aramaico, embora não se saiba ao certo onde aprendeu, se em casa ou na escola, contudo era uma língua atual nas áreas envolventes e perto da sua região. Aprendeu hebraico e segundo Jerome Murphy - O´Connor fala até que na época de Paulo, existiam escolas Judias e Pagãs que infundiam desde muito cedo, o conhecimento e o respeito pelas instituições do estado e da religião. É muito provável que Paulo tenha frequentado esse ensino, para além da filosofia estoicista enraizada na sua cidade, concluímos, portanto, que Paulo era um homem culto e instruído e que à partida se adaptaria ao meio onde estivesse.
            Em alguns momentos do texto Jerome Murphy - O´Connor salienta e faz referência a Lucas, o Apóstolo que procura saber as origens de Paulo já que, depois de ter sido vergado pelo Senhor, se afirmava como mais um além dos doze. Lucas tenta descobrir as suas raízes e diz que Paulo era cidadão romano, não pela sua intenção, mas por ter descoberto um “Travel Document” que o provasse. Em boa verdade, nada diz em concreto por escrito a sua origem. Lucas aponta certas passagens por exemplo, Paulo quando vai a Roma vangloriar-se como sendo romano (Act 22,27-28), há um certo recuo dos romanos que atestam verdade da sua nacionalização. (Act 16: 36-39). Quer isto dizer que Paulo era considerado um cidadão universal, sem restrições.
            Paulo opta pela Tradição e começa em direção a Jerusalém. A dada altura depara-se com um grupo de Fariseus. Para o nosso apóstolo não era um grupo estranho dado que o seu professor foi Gamaliel - uma figura de destaque e de extrema importância na formação doutrinal de Paulo. Os fariseus eram vistos como um grupo político fortemente envolvido na sociedade e vistos como verdadeiramente zelosos da Lei, os intérpretes e comentadores da Torah, estabeleciam leis sobre a Tradição e Leitura da Lei, ou seja, interpretada ao jeito deles. O problema é que não a interpretavam convenientemente e por isso confrontavam e interrogavam muito Jesus nessa altura, a ponto de ver quando se contradizia ou lhes respondia o que lhes convinha. Mal eles sabiam e desconfiavam que Jesus é a personificação da Lei, do amor de Deus feito Homem. Nem mesmo Paulo, que viveu esse período em paralelo com Jesus de Nazaré, o sonhava.
            Ao longo do texto nota-se que há uma certa preocupação do Apóstolo Lucas na medida em que tentava compreender de que modo Paulo fora iluminado, a ponto pregar mais tarde o Cristianismo dado que inicialmente o perseguia sem limites. Lucas mais uma vez aparece como intérprete de Paulo à semelhança e reflexo dos Fariseus, isto é, a salvaguarda desmedida da Lei, é algo que os Fariseus fariam, com o mesmo espírito fervoroso e tom imperativo. Por outro lado, não menos aceitável no ponto de vista moralístico, Paulo era visto como alguém de alguma supremacia dada a sua cultura, porém marcado pela fama, sexo e violência quando frustrado, algo que não se compagina de todo com aquilo que ele defendia e representava – a Lei dada por Deus a Moisés. Não era propriamente desígnio e mandamento de Deus, não menos ainda Tradição de seus pais.
            Tal brutalidade gerava frustração, a frustração por sua vez conduzia-o, lavando-o à arrogância, e Paulo vendo que a par do Judaísmo crescia e florescia o Cristianismo, não tolera - começa a sua perseguição. A perseguição tem como base, a não aceitação da ressurreição de Jesus, embora os Fariseus acreditassem na ressurreição, Jesus era visto como o seu pior inimigo. Jesus não tinha intenção de criar inimigos, Ele sabia e conhecia o coração das pessoas que o confrontavam, mas educava e fazia a verdadeira leitura da Lei chamando atenção que a leitura e interpretação dos Fariseus sobre a Torah era egocêntrica, ou seja, interpretada ao modo de lhes beneficiar.
            Ora como os Judeus estavam a ser iluminados, movidos e conquistados pelos Cristãos, Paulo não aceitava que o Cristianismo se sobrepusesse ao Judaísmo. “E foi precisamente o que fiz em Jerusalém: com o pleno assentimento dos sumos sacerdotes, meti na prisão grande número de santos e, quando eram mortos, eu dava o meu assentimento. Muitas vezes ia de Sinagoga em Sinagoga e obrigava-os a blasfemar à força de torturas. Num excesso de fúria contra eles, perseguia-os até nas cidades estrangeiras” (Act26 10,11). Tal raiva aos Cristãos, Paulo chega mesmo com autoridade a convocar todos aqueles que guardavam e preservavam a sua fé Cristã. Tal poder e domínio foi permitida e negociada pelo Sumo Sacerdote porque também lhe era conveniente parar com o Movimento Cristão.
            A sua intolerância era tanta que só cegando o seu coração o iria fazer parar. A caminho de Damasco, eis o que acontece, «quando se viu subitamente envolvido por uma intensa luz vinda do céu. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo porque me persegues?» (Act 9,3-4).
            Repentinamente, Paulo dá a volta ao texto e à postura o que não é para menos. O autor, neste capítulo, ressalta determinadas passagens bíblicas redigidas por Paulo que falam do seu encontro pessoal e propósito com Jesus de Nazaré, o ressuscitado. Destaco por exemplo uma das mensagens que me chamou atenção dado o trajeto do Apóstolo Paulo «circuncidado ao oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim, um Hebreu descendente de hebreus; no que toca à Lei fui fariseu» (Fl 3 – 5) ; «Assim posso conhecê-lo a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos» (Fl 3 – 10,12). Paulo lamenta a sua perseguição e considera em vão tudo aquilo que pensa ter ganho e sabido a respeito de Deus e da própria Lei, não vê senão agora interpretar o Cristianismo como sendo verdadeiramente o caminho a seguir, o dever  de remediar a situação e sofrer as consequências disso, até porque Jesus foi claro «Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens a fazer» (Act 9 – 6).
            Dada a atitude Paulo, que ninguém entende a sua viragem, no entanto não é mais o mesmo dado que é Jesus que vai ter com o Homem e não o contrário. Jesus procura o diálogo com aqueles à qual a sua presença os incomoda e por isso, a intervenção de Nosso Senhor na vida de Paulo precisa de ser analisado e interpretada atentamente.
            O Evangelho ganha uma nova dimensão à mente de Paulo, foi uma mudança radical no seu modo de ver, pensar, agir e ser, o Evangelho como que Revelação Divina, «Com efeito, faço-vos saber, irmãos, que o Evangelho por mim anunciado, não o conheci à maneira humana; pois eu não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por uma revelação de Jesus Cristo». (Gl 1 - 11,12) Tal foi a transformação na vida de Paulo que ele se vê no encargo de dizer que Jesus confiou-lhe a missão de anunciar o Evangelho, pois o Evangelho é o próprio Jesus Ressuscitado. A base da Teologia para Paulo é Jesus, o Nazareno que derrotou a morte com a sua morte e hoje vive, tal vivência é tão viva (desculpando a redundância) que Paulo foi inflamado para uma nova vida.
            Paulo parte sozinho para Nabataean (Arábia). Há quem defenda que tenha sido para refletir sobre si mesmo na companhia do Senhor, mas parte com objetivo de anunciar e converter os Nabateus, o que aparentemente não correu muito bem, algo chamou demasiado a sua atenção e porque queria regressar a Damasco e passado ainda três anos, as autoridades o queriam preso. Paulo foge e vai para a capital da Síria – Damasco. Já em Damasco inicia a sua pregação nas Sinagogas, a par com os discípulos, o que não foi fácil dado que havia algum receio em aproximarem-se de Paulo, por outro lado, alguma dificuldade até dar provas verídicas e visíveis da sua conversão ao Cristianismo. Tudo era muito recente e era preciso algum discernimento.            Os Discípulos, sabendo que os Judeus o queriam morto, ajudam-no a fugir da cidade e vai para Jerusalém. Passado algum tempo, já em Jerusalém, Paulo visita Cefas (Pedro) ficando com ele alguns dias a fim de se familiarizar e informar-se com ele, nesse contexto, encontra também um outro apóstolo – Tiago. Depois de alguma reflexão com esses apóstolos chegam à conclusão que a Evangelização deve ser feita, mas em separado, isto é, Paulo, dada a sua universalidade, vai evangelizar por outros territórios a par dos Apóstolos que conviveram com o Senhor. «pois aquele que operou em Pedro, para o apostolado dos circuncisos, operou também em mim, em favor dos gentios». (2Gl 8 – 9) «Só nos disseram que nos devíamos lembrar dos pobres – o que procurei fazer com o maior empenho» (2Gl 10).
            Em conclusão, todas as tribulações de Paulo são superadas com base a experiência do Ressuscitado, no entanto, não se crê que tenha sido tarefa fácil dada as perseguições, dado o contexto onde o Evangelho é anunciado, dado os perigos e condições adversas e obstáculos com que faz as viagens em prol da pregação. Não menos importante, devo dizer, que Paulo sofreu uma transformação doutrinal completamente nova e diferente daquilo que aprendeu ao longo do tempo com e como fariseu, ou seja, internamente poderia gerar conflito se Deus não lhe clarificasse a sua missão, à qual ele foi chamado. Apesar de tudo isto, é vivido com muito acolhimento pois para Paulo o mais importante estava com ele até ao fim da sua vida – Jesus Ressuscitado para Glória de Deus.