Seguidores

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Escatologia - Antropologia Teológica


O estudo sobre a escatologia remete-nos para uma ideia de fim último, como que um propósito ou intenção (extra)ordinária, onde objetivamente se torna um facto, que não somos capazes de dominar todo o processo daquilo que nos é revelado, apenas nos é possível ser compreendido, ser vivido, experienciado e só depois testemunhado.
            Exemplo vivo desse facto, verifica-se quando concluímos que a vida, aqui e agora, não faz sentido se não tivermos um horizonte apontado para o futuro, para a fonte de esperança e Luz Eterna – Cristo. Paulo, na primeira carta aos Filipenses sublinha isso mesmo, que para ele, viver é Cristo e morrer é lucro (cf.1 Flp 21), significa assim, que de uma pessoa com pressupostos enraizados no mundo farisaico, longe de imaginar que a Verdade e a Vida era pessoa de Jesus de Nazaré, cai de todas as suas prerrogativas a caminho de Damasco. Todo este acontecimento coloca um grande sinal/ponto de interrogação da vida de Paulo, suscitando o verdadeiro sentido da vida, levando-o a reinterpretar toda a Torah e passar a ser o perseguido ao invés de ser o perseguidor.
            Tudo indica que a escatologia se explica plenamente na teologia, naquilo que trata sobre o estudo relativo aos acontecimentos, da experiência de um Deus que se dá a conhecer, um Deus que salva e que sempre esteve presente na história da humanidade. Para tal ser compreendido, parte do princípio, e como base de toda a revelação, a pessoa de Jesus Cristo.
            Com a Teologia Liberal, que em nada se compagina com aquilo que dizemos e afirmamos como sendo verdadeiramente cristãos, um Cristianismo entendido como mera pesquisa, isto é, sem fonte histórica de um povo peregrino na sua correlação com Deus, uma história onde a fé não se sobressai, em que a experiência e conhecimento da pessoa de Jesus de Nazaré se resume a meros relatos escritos, ou seja, um estudo da Teologia à moda da modernismo que relativiza a autoridade da bíblia.
            À medida do tempo que nos passa, percebemos cada vez mais que nenhuma palavra é inocente ou sem sentido, ela tem significado, ainda mais quando essa palavra se revela, se mostra, e se dá como um sinal. Essa Palavra, no seio da Teologia é Jesus, é a palavra encarnada, é a Palavra do Antigo Testamento, que veio não para revogar, mas para nos fazer entender que desde sempre viveu no meio da humanidade e tal só vista e compreendida se a ouvirmos pela sua própria voz – Novo Testamento, onde o protagonista de toda a história é Jesus.
            De outra maneira, não faria sentido se Jesus tivesse escrito algum documento, como se ele não fosse o verdadeiro autor de todos eles. Ao invés dos discípulos e dos apóstolos que perceberam que tais palavras não podiam deixar de ficar registadas, pois nenhuma delas, por mais dura que fosse, ficasse sem lugar na história daquilo que é hoje a maior instituição do mundo, a Igreja Católica. Jesus era verdadeiramente convincente, seguro do que dizia e ensinava, de outro modo Ele não seria o Verbo.
            De facto, a história em sentido rigoroso na sua interpretação, contribui fundamentalmente naquilo que é o contributo sobre os relatos de um povo no confronto com a fé de um Deus invisível, contudo não implica a sua desvalorização, pois por mais que o tempo passe e pareça que andemos á deriva, Deus continua a realizar a Sua obra, o que não faria sentido a sua revelação pois terminaria todo o mistério da fé. A história faz-se de um caminhar peregrino na fé e não implica o conflito. Em várias passagens da Sagrada Escritura, vemos relatos onde a fé é uma palavra frequente para Jesus, Lc 17-19 «levanta-te e vai, a tua fé te salvou»; Mc 10,52 «Vai, a tua fé te salvou!». A fé é vivida, hoje e agora, não só pela história, mas pelo Kerigma dos acontecimentos mais marcaram a história da humanidade, concretamente de um povo que o clama, mesmo aqui e agora.
            Para Rudolf K. Bultmann, o Kerigma só é sustentado na fé de Jesus histórico e isso basta, ou seja, o importante é que Jesus existiu na história e hoje ninguém tem a ousadia de o negar. Jesus viveu como homem e tentou balancear a sua divindade pois não só ensinava e pregava, mas também curava e sobretudo criava nos seus seguidores a missão de discipulado. Tudo o que fosse esmiuçar o sentido histórico, confronta-los ou não, isso não importa, o importante é o que Jesus disse.
            Face ao pensamento modernista na tentativa herege de destruir e arrasar toda a história, a Igreja convoca um concilio sob autoridade do Papa João XXIII para colocar um lugar da Santa Igreja no mundo, tocando em temas sensíveis, mas também diretos, por exemplo, o que é a Igreja para o mundo e o que ela tem para oferecer. Sem dúvida que se o homem é criação de Deus, não é verdade então por isso, que a Igreja, que o corpo místico de Jesus Cristo seja só para alguns, pelo contrário, a Igreja é para todos e a maior oferta que poderia dar, é precisamente e simplesmente toda Palavra de Deus. A Igreja é assim reconhecida como o lugar do diálogo, da comunhão do Homem com Deus, é, portanto, um lugar de Graça, a qual nos permite viver o Reino de Deus aqui e agora e, que no final de contas, não se faz assim tão longe.
            Ora se a Santa Igreja é o lugar por excelência do encontro do Homem com Deus, significa que a Igreja é vista como uma via de salvação e como tal, a salvação é para os demais sem exceção. Esta realidade torna-se visível ao mundo, em que por um lado a Igreja é vista como aquela que acolhe a pessoa, a respeita dignamente e por outro lado, acolhe o género humano nas suas diferenças culturais, na sua vida socio-económica, na vida comunitária e política e na união do povo promovendo a Paz. Conduzida pelo Espírito Santo, o papel da Igreja no mundo atual acolhe com solidariedade, respeito e amor toda a família humana e tal só é conduzido à luz do criador, pelo Seu mistério Pascal, morte e ressurreição que se torna o culminar de todo sentido da existência humana. A vida humana só é perfeita nesta perspetiva salvífica por intermédio da pessoa de Jesus Cristo que nos convoca à comunhão e união, de amor ao próximo para uma nova humanidade, uma nova terra para toda a espécie humana.
            Todos são chamados para viver a Santidade, pelo facto de não aderir, não implica, portanto, que deva ser julgado, pois se Deus convida, respeita por isso a liberdade e a Dignitatis Humanae. A Lei ensina o Homem a amar melhor, logo Deus permite o tempo necessário para a reflexão pessoal pois na Sua misericórdia, o Seu amor é infinito, e ninguém parte tábua rasa imune para a realidade divina.