O estudo sobre a
escatologia remete-nos para uma ideia de fim último, como que um propósito ou intenção
(extra)ordinária, onde objetivamente se torna um facto, que não somos capazes
de dominar todo o processo daquilo que nos é revelado, apenas nos é possível
ser compreendido, ser vivido, experienciado e só depois testemunhado.
Exemplo vivo desse facto, verifica-se quando concluímos
que a vida, aqui e agora, não faz sentido se não tivermos um horizonte apontado
para o futuro, para a fonte de esperança e Luz Eterna – Cristo. Paulo, na
primeira carta aos Filipenses sublinha isso mesmo, que para ele, viver é
Cristo e morrer é lucro (cf.1 Flp 21), significa assim, que de uma pessoa
com pressupostos enraizados no mundo farisaico, longe de imaginar que a Verdade
e a Vida era pessoa de Jesus de Nazaré, cai de todas as suas prerrogativas a
caminho de Damasco. Todo este acontecimento coloca um grande sinal/ponto de
interrogação da vida de Paulo, suscitando o verdadeiro sentido da vida,
levando-o a reinterpretar toda a Torah e passar a ser o perseguido ao invés de
ser o perseguidor.
Tudo indica que a escatologia se explica plenamente na
teologia, naquilo que trata sobre o estudo relativo aos acontecimentos, da
experiência de um Deus que se dá a conhecer, um Deus que salva e que sempre
esteve presente na história da humanidade. Para tal ser compreendido, parte do
princípio, e como base de toda a revelação, a pessoa de Jesus Cristo.
Com a Teologia Liberal, que em nada se compagina com
aquilo que dizemos e afirmamos como sendo verdadeiramente cristãos, um
Cristianismo entendido como mera pesquisa, isto é, sem fonte histórica de um
povo peregrino na sua correlação com Deus, uma história onde a fé não se
sobressai, em que a experiência e conhecimento da pessoa de Jesus de Nazaré se
resume a meros relatos escritos, ou seja, um estudo da Teologia à moda da
modernismo que relativiza a autoridade da bíblia.
À medida do tempo que nos passa, percebemos cada vez mais
que nenhuma palavra é inocente ou sem sentido, ela tem significado, ainda mais
quando essa palavra se revela, se mostra, e se dá como um sinal. Essa Palavra,
no seio da Teologia é Jesus, é a palavra encarnada, é a Palavra do Antigo
Testamento, que veio não para revogar, mas para nos fazer entender que desde
sempre viveu no meio da humanidade e tal só vista e compreendida se a ouvirmos
pela sua própria voz – Novo Testamento, onde o protagonista de toda a história
é Jesus.
De outra maneira, não faria sentido se Jesus tivesse
escrito algum documento, como se ele não fosse o verdadeiro autor de todos
eles. Ao invés dos discípulos e dos apóstolos que perceberam que tais palavras
não podiam deixar de ficar registadas, pois nenhuma delas, por mais dura que
fosse, ficasse sem lugar na história daquilo que é hoje a maior instituição do
mundo, a Igreja Católica. Jesus era verdadeiramente convincente, seguro do que
dizia e ensinava, de outro modo Ele não seria o Verbo.
De facto, a história em sentido rigoroso na sua
interpretação, contribui fundamentalmente naquilo que é o contributo sobre os
relatos de um povo no confronto com a fé de um Deus invisível, contudo não
implica a sua desvalorização, pois por mais que o tempo passe e pareça que
andemos á deriva, Deus continua a realizar a Sua obra, o que não faria sentido
a sua revelação pois terminaria todo o mistério da fé. A história faz-se de um
caminhar peregrino na fé e não implica o conflito. Em várias passagens da
Sagrada Escritura, vemos relatos onde a fé é uma palavra frequente para Jesus,
Lc 17-19 «levanta-te e vai, a tua fé te salvou»; Mc 10,52 «Vai, a tua fé te
salvou!». A fé é vivida, hoje e agora, não só pela história, mas pelo Kerigma
dos acontecimentos mais marcaram a história da humanidade, concretamente de um
povo que o clama, mesmo aqui e agora.
Para Rudolf K. Bultmann, o Kerigma só é sustentado na fé
de Jesus histórico e isso basta, ou seja, o importante é que Jesus existiu na
história e hoje ninguém tem a ousadia de o negar. Jesus viveu como homem e
tentou balancear a sua divindade pois não só ensinava e pregava, mas também
curava e sobretudo criava nos seus seguidores a missão de discipulado. Tudo o
que fosse esmiuçar o sentido histórico, confronta-los ou não, isso não importa,
o importante é o que Jesus disse.
Face ao pensamento modernista na tentativa herege de
destruir e arrasar toda a história, a Igreja convoca um concilio sob autoridade
do Papa João XXIII para colocar um lugar da Santa Igreja no mundo, tocando em
temas sensíveis, mas também diretos, por exemplo, o que é a Igreja para o mundo
e o que ela tem para oferecer. Sem dúvida que se o homem é criação de Deus, não
é verdade então por isso, que a Igreja, que o corpo místico de Jesus Cristo
seja só para alguns, pelo contrário, a Igreja é para todos e a maior oferta que
poderia dar, é precisamente e simplesmente toda Palavra de Deus. A Igreja é
assim reconhecida como o lugar do diálogo, da comunhão do Homem com Deus, é,
portanto, um lugar de Graça, a qual nos permite viver o Reino de Deus aqui e
agora e, que no final de contas, não se faz assim tão longe.
Ora se a Santa Igreja é o lugar por excelência do
encontro do Homem com Deus, significa que a Igreja é vista como uma via de
salvação e como tal, a salvação é para os demais sem exceção. Esta realidade
torna-se visível ao mundo, em que por um lado a Igreja é vista como aquela que
acolhe a pessoa, a respeita dignamente e por outro lado, acolhe o género humano
nas suas diferenças culturais, na sua vida socio-económica, na vida comunitária
e política e na união do povo promovendo a Paz. Conduzida pelo Espírito Santo,
o papel da Igreja no mundo atual acolhe com solidariedade, respeito e amor toda
a família humana e tal só é conduzido à luz do criador, pelo Seu mistério
Pascal, morte e ressurreição que se torna o culminar de todo sentido da
existência humana. A vida humana só é perfeita nesta perspetiva salvífica por
intermédio da pessoa de Jesus Cristo que nos convoca à comunhão e união, de
amor ao próximo para uma nova humanidade, uma nova terra para toda a espécie
humana.
Todos são chamados para viver a Santidade, pelo facto de
não aderir, não implica, portanto, que deva ser julgado, pois se Deus convida,
respeita por isso a liberdade e a Dignitatis Humanae. A Lei ensina o
Homem a amar melhor, logo Deus permite o tempo necessário para a reflexão
pessoal pois na Sua misericórdia, o Seu amor é infinito, e ninguém parte tábua
rasa imune para a realidade divina.