O
homem, como um ser transcendental, revendo-se no próximo nas próprias relações
de comunhão, fraternidade, caridade, hospitalidade, assume uma nova consciência
da vivência humana. Ele não só abre o espírito ao transcendente, o amor pleno,
como também descobre ser a manifestação desse amor em relação ao outro. A
hospitalidade e caridade são sinais de fraternidade e de comunhão, e sem esta
noção que começa no interior, numa busca que nasce do interior de cada um, este
dinamismo de abertura e de união ao outro resplandece a gratuidade de Deus ao
Homem. A medida do amor é esta: «Dai e Dar-Se-Vos-á» (Mt7,7)
O
amor como ação no mundo, leva a criar uma sociedade mais fraterna, isto é, mais
dada ao próximo, o que pressupõe o outro na mesma medida e proporção em relação
a nós próprios (Cf Mt23,8). Nesta medida, o amor ultrapassa a barreira do
racismo, etnia, da própria conceção da religião, no fundo, a própria abertura
ao amor atinge o íntimo da pessoa como conhecimento essencial da vida de cada
um e da própria comunidade.
O
olhar alheio ao próximo pode afastar aquele que pode mais precisar, não só de
amor como também de integração e neste sentido, a atitude de indiferença pode
tornar-se um sério vírus (daí ter falado que a Fratelli Tutti marca uma
certa posição da Igreja no mundo, já fruto e desejo do Concilio Ecuménico
Vaticano II). Independentemente das limitações, quer intrínsecas ou extrínsecas
à vida da pessoa, esta tem dignidade e quanto mais trabalharmos nessa direção
vemos expressa de forma pessoal a manifestação desse amor.
Os
separatismos, gerado pelas diferentes classes sociais, dá-se precisamente pelo
problema da globalização que gera conflito de interesses do ponto de vista
político, social e económico, deixando de lado a relação humana, o lado mais
religioso da relação intra-humana. O mundo foi criado nesta perspetiva de
criação e procriação, é um bem de todos.
A
luta de classes sociais a influenciar a mentalidade e postura de cada um frente
ao irmão que precisa de ajuda, torna-se e voltasse para o lado mais obscuro da
realidade humana vivida hoje, isto é, mais longe do outro “eu”. Portanto, a
fraternidade, liberdade e igualdade, são conceitos que se ligam entre si e que
só se entendem em mútua ligação com o próximo e nesta medida, a gestão de
recursos como ela é feita, em que a discriminação é permanente na sociedade,
verifica-se que a partilha e a comunhão fica aquém. O Socialismo cai num
individualismo, afasta da sua conceção a liberdade, igualdade, irmandade no
sentido mais fraterno.
Independentemente
do estatuto, o importante é olhar com olhos humanos a própria pessoa, no
próprio valor do seu ser. Esta é a condição de sobrevivência, não só dos
valores enquanto pessoas, mas também da própria pessoa em si, dentro de um
quadro daquilo que é SER humano.
A
Fraternidade assume traços concretos na vida e postura das pessoas, ela é
verdadeira na medida da entrega, ou seja, é disponível, gratuita. Cada vez mais
se vê que o Cristianismo é uma religião voltada ao próximo, na abertura do
diálogo, na própria conceção do outro como um outro “eu”, a própria entrega
pessoal de si mesma em detrimento e benefício do outro, enfim, uma religião do
amor.
Uma
sociedade fraterna e humana é capaz de (pré)ocupar-se por garantir, de modo
eficiente e estável que todos sejam acompanhados no percurso da sua vida, não
apenas para assegurar as suas necessidades básicas, mas para que possam dar o
melhor de si mesmas, ainda que o seu rendimento não seja o melhor, mesmo que
sejam dentro das suas limitações.
A
condição humana está longe de ser entendida como a condição do amor. É na
medida em que me entrego ao próximo que vejo o valor da própria pessoa
independentemente da sua condição física, mental ou psíquica. O ser não se
esgota, pois, só se entende inserida na parte do todo que é Deus. Os próprios
valores morais na base do comportamento humano, vão contribuir para uma nova
visão do homem se o olharmos a partir da sua essência, visto antes como um todo
na parte ou a parte no todo, significa, portanto, que o homem, é criação
divina.
O
valor da solidariedade, como que tudo na vida nasce a partir de casa, a
formação, o próprio caráter são as bases, o amor da partilha, respeito mútuo,
são a própria fraternidade, o vínculo privilegiado para a transmissão de
valores e também um teste à própria fé.
Servir
significa muito mais que prestar auxílio, tanto quanto escutar significa muito
mais que ouvir, implica um discernimento, implica um retiro também espiritual e
é no silêncio que Deus fala. Acolher e cuidar das fragilidades do próximo,
significa passar pela pele do outro que necessita de ajuda e neste sentido, vai
fazer parte da história viva e da memória da pessoa. É um exemplo do
Cristianismo.
A
dignidade compreende a mulher e homem, no mesmo pé de igualdade no mundo, a
condição humana é homem e mulher ao mesmo tempo. É inaceitável do mesmo modo
que o local de nascimento ou de residência determine as oportunidades de
desenvolvimento para a obtenção de uma vida condigna só porque aquilo que nos é
dado de graça, passe a ser gerido pela supremacia das classes. O
desenvolvimento deve ser tomado não para uma parte mas para todos, já que a
gestão do mundo como criação divina, foi e é para todos, do mesmo modo, que as
empresas e tudo aquilo que faz a economia girar, deva ser em detrimento de
todos e não centrados no egoísmo individual de cada um.
Com
que direito nos achamos dignos de determinado recurso que se encontra no nosso
país ser privado de todos aqueles que precisam por exemplo, água. A violência e
a guerra nascem de não discernirem o dom da partilha. A desigualdade cria no
irmão que necessita, um fardo, ou dito em muito bom português, uma pedra no
sapato e a Fratelli Tutti ensina-nos isto, dar-se sem restrições, mesmo
ao jeito de Jesus que se entregou mesmo com a própria vida, incondicionalmente
pelo amor de cada um dos seus irmãos, a cura a troco de nada em concreto, pois
Jesus sabia que iria viver melhor sabendo que o outro o reconheceria como um
irmão que dá tudo de si. É a maneira de Jesus amar, é a maneira de Jesus
ensinar que viver é assim, uma Fratelli Tutti.
A desigualdade não afeta apenas
os indivíduos como atinge repercussões maiores nos próprios países, resultando
em rivalidades e em novos protocolos, isto é, tomar como partido aquilo que por
direito é de todos – egoísmo.
«é possível desejar um planeta que
garanta terra, teto e trabalho para todos. Este é o verdadeiro caminho da Paz e
não a estratégia insensata e míope de semear medo e desconfiança perante
ameaças externas» (Papa Francisco).