Antropologia
Teológica Fundamental
O Futuro Utópico e a Esperança Escatológica
Efetivamente
o Homem é um ser contínuo na história, que nasce e renasce conscientemente para
a vida, isto é, vive sob a busca de um sentido pleno da vida. Quando falamos
sobre a utopia, nada mais é que a construção de uma ideia originária do
“perfeitamente possível e alcançável”, porém, a base de um pensamento utópico
restringe-se demasiadamente sobre a razão, sobre um conhecimento técnico, sobre
a certeza e domínio geral dependente e exclusivamente do Homem. Ora a plenitude
e a perfeição, podem ser vividas aqui e agora projetando um futuro que dependa
totalmente da mão humana. Esta conceção, ainda que seja imaginada não é
concebível.
De
facto, é interessante que o homem re-conheça e tome consciência de um mundo
perfeito, que re-conheca também a sua condição enquanto humano e reconhecendo
isso, é importante notar que ao deparar-se com a sua debilidade e o seu limite,
surja de forma inata e impressa em si, o ideial da perfeição como aquele que
conhecemos como o Ser Absoluto – Deus. Portanto, a utopia não é totalmente má
porque nos leva a admitir que não existe verdade ilusória suficiente capaz de
ofuscar a verdadeira Verdade.
Nesta
medida, se considerarmos a nossa existência não propositada, a utopia não faz
qualquer sentido, pois não detém e não atinge a plenitude, isto é, não faz
sentido absolutamente nenhum criar uma história sem a qual não seria possível o
alcance do infinitamente Bom e, por conseguinte, não haja uma re-ligação com
esse infintamente Bom, dito de outra forma, fica a quem da verdadeira Plenitude
porque essa é verdadeiramente inalcançável.
A utopia, sem querer, remete-nos para uma esperança sob a qual a
Escatologia toma o seu lugar, mas de forma lógica e coerente, isto é, não se
prende nem se fecha em si mesma.
Neste
sentido a Escatologia, assume a esperança ao invés da certeza “não
fundamentada”. No contexto bíblico, desde o Antigo Testamento para o Novo
Testamento, a esperança que se trata, é uma esperança salvífica e
verdadeiramente dependente, isto é, Deus não teria necessidade de intervir na
história da humanidade senão fossemos seus filhos. O homem assume a falta da
perfeição porque Deus deixa impressa nele a sua marca, e é através d´Ele, que
podemos confiar e esperar – certeza que vai acontecer, de outra forma não
haveria revelação.
A
maneira mais humana de entender toda a revelação, é por intermédio de Jesus
Cristo, aquele que é o “Khristós Ungido
e o Enviado pelo Pai, é aquele quem de forma altamente humana abre portas para
o céu, isto é, o reino e a comunhão com Deus e todos os seus santos. A
antropologia do Homem está voltada para a Cristologia, ou seja, Jesus assume as
duas naturezas e respeita-as, aceitando que lhe chamem o Filho do Homem e que
por Ele todo o Homem é salvo. Esta mesma salvação encontra-se antes da sua
vinda, Jesus é o mesmo Deus que falou pelos profetas ao Seu povo, é o mesmo
Deus que os resgatou do Egipto e lhes prometeu uma nova aliança.
Escatologia Bíblica
A origem e
desenvolvimento da Escatologia no Antigo Testamento
Desde a
origem do Homem, podemos verificar que existem relatos nas Sagradas Escrituras
que tratam sobretudo de uma união na vivência com Deus, encontramos passagens
em alguns livros do Antigo Testamento que marcam por um lado essa ligação e por
outro lado, marcam o distanciamento (pecado) do Homem com Deus. Porém, o que na
mente humana se torna a verdadeira surpresa e esperança, é que o verdadeiro
Amor, Deus enquanto tal, é a misericórdia, ou seja, Deus não julga até porque
já estamos julgados mas trata-se de um julgamento retornado para a salvação
Cf.Gn 6, 17-18.
Cada
vez mais nos deparamos com essa liberdade de escolha nos dias de hoje, a
escolha de Deus está feita desde sempre, a escolha do Homem é que vai vacilando
no tempo. Ora se desde o inicio, Deus permanece continuamente com o Seu povo
como fonte credível de esperança, mesmo sabendo a nossa condição de pecadores,
não seria “agora” que deixaria de estar connosco, isto supõe que para Deus, o
tempo não é circular e restrito dentro de uma história com principio, meio e
fim, pelo contrário, é pela história de um povo que peregrina que faz desse
tempo, o tempo da salvação sem fim. É extremamente importante deixar-se guiar
no Tempo e Templo de Deus, ou seja, o tempo na história só faz sentido na
vivência do Homem para o Sábado. O que é importante é viver sobre os preceitos
de Javé, em que a história de vida de um povo que o exulta é permanente e
continuado, o mundo não acabou para se fechar uma história que é por excelência
a mais bela história da Salvação e que está totalmente fora das nossas mãos.
É aqui
que a esperança assume os seus maiores pilares ou alicerces, pois é
precisamente aqui que Deus dá o tempo necessário no espaço para a Salvação. A
intervenção de Deus na história da humanidade com o desejo da salvação, passa
pelo juízo, em que este não é entendido nem encarado como uma punição ou
castigo, mas assume antes disso um carácter terapêutico que nos ajuda a amar
melhor – Lei (ToRAh). O Próprio Deus, é a “eschaton” da vida plena.
Vida, morte e
Ressurreição no Antigo Testamento
Vida
Começando
pelo seu próprio conceito, a vida é sinónimo de existência e como seres que
existem, assume paralelamente o sinónimo de ter saúde, de ser saudável, que
vive, que se manifesta e se relaciona. Todavia, a vida não deve restringir-se
ao seu sentido meramente existencial, pois a vida é inexaurível, é o Bem
supremo ao qual nos é dado – criação.
Para o
crente a vida é dom-de-Deus, isto é, não se resume apenas à sua biologia, é a
vida de perpétua união com Deus e que se não for assim, cai num significado
meramente existencial e sem sentido. Não ganha força nem convence qualquer
crente, seja de que religião for porque toda ela (religião) trata sobretudo de
uma tentativa de Religar ou Reler a nossa vida à sua origem.
Morte
A
morte, significa antes de tudo, o fim de todo e qualquer tipo de
existencialismo, é sinónimo de perda, de angústia, de tristeza, de escuridão,
solidão, ausência de luz. No ponto de vista religioso, a morte pode parecer a
incomunicação com Deus. No entanto, há aqui uma questão mais alta que se
levanta, se Deus é fonte de toda a criação, é licito questionar se a morte é do
Seu domínio? Será que Deus tem poder sobre a morte? – Sim.
Sabemos
que a morte é falta de conhecimento em contraste à vida, isto é, porque eu
vivo, tenho perceção que estou animado por algo que me dá essa noção de vida,
não no sentido estreito do existencialismo, mas enquanto ser também espiritual.
Na Sagrada
Escritura, temos vários relatos sobre a morte e é curioso que no Antigo
Testamento, ela não é totalmente entendida como fim último. Verifica-se por
exemplo no Livro de Job onde a morte tem um lugar chamado Scheol – «é o fogo
que devora até à destruição e que arruinaria todos os meus bens» Job 31,12
Para
entendermos melhor este fenómeno de que se chama morte, daria uma tese longa e
profunda sob o ponto de vista religioso e ético, mas no que toca ao Antigo
Testamento, verificamos que a morte não é tão temerosa aos olhos daqueles que
não encontram na sua vida, a causa de todas as causas – Deus. Ora se Deus é a
fonte da vida, já que criador de todas as coisas (Gn1,1), é Aquele que permite
a passagem da morte para a vida e vice-versa, ainda que, na sua infinita
misericórdia não se canse de nos chamar à reconciliação para a vida eterna, a
morte é apenas uma passagem. Claro está a evidência da sexta-feira Santa, de
outro modo não haveria Páscoa, a passagem da morte para a vida e vida plena e
em abundância. Contudo isto, leva a que admitamos em que a morte é real. A
morte em Deus ganha outra dimensão, em que por um lado é a fé que nos salva
(diversas passagens no Novo Testamento em que Jesus centra a fé como salvação)
e por outro é a ausência de fé, ausência da esperança, a ausência de Deus que
nos leva ao Scheol e morte esquecida.
Segundo
o Livro dos Juízes, é verificável, por uma análise exegética o esquema:
PECADO-CASTIGO-CONVERSÃO-SALVAÇÃO. Significa, portanto, que entre os dois
opostos, entre a vida e a morte, Deus permite que aprendamos com as nossas
escolhas (modo por onde vem a nossa experiência) e graças à Sua Misericórdia,
Ele educa o filho, indica o Caminho mostrando que a Verdade e a Vida só é
alcançável se efetivamente O tivermos como o nosso guia. Se assim for, tudo o
que é riqueza material ou tudo aquilo que é alheio à salvação, perderá todo o
seu valor.
Para
Job e Jeremias, é altamente discutível quando nem sempre os factos coincidem
com as evidências, ou seja, por muito que nos mantenhamos sobre os preceitos de
Javé, nem sempre significa que o resultado seja previsível, isto não quer dizer
que Deus se torne despreocupado ou ausente na nossa vida, não é isso que está
em questão, mas sim o simples facto de que a consciência no Deus da bíblia, o Deus
do Antigo Testamento, nasce no meio da hostilidade, angústia, onde ainda hoje,
Ele continua a realizar a Sua obra porque não se cansa de chamar os Seus
filhos, sem esquecer de nenhum. Mais uma vez, evidente está, que vivemos
demasiadamente preocupados com o tempo que para Deus não existe e, por outro
lado, continua a ser sempre melhor saber que a realidade de Deus é mais forte
que qualquer angústia, ausência ou qualquer ceticismo, o mesmo é dizer que é
Deus é Amor e consequentemente maior que a morte.
Salmo
16, 49 e 73 vêm paulatinamente mostrar que de certa forma os salmistas viram a
Deus.
A Fé na Ressurreição
A
ressurreição nos escritos do Antigo Testamento era vista em poucos casos,
apenas em Ezequiel e Oseias se alude ao Deus que ressuscita e o único capaz de
resgatar a vida da morte. No entanto, em Dan 12, nos versículos 2, 3 e 13,
vemos claramente uma ressurreição voltada para o Homem como uma espécie de
pressupostos que garantem a vida eterna, isto é, vivamos segundo os preceitos
de Javé e teremos a glória de Deus. Efetivamente, Deus quebra as barreiras da
morte em que por um lado se faz Homem, encarnando habitou entre nós (Cf. Jo
1-14) e por outro lado morre para a Vida, significa, portanto, que todo aquele
que vive como Mártir – aquele que é fiel a Deus na vida e na morte, supõe a
verdadeira passagem da morte para a Vida. Estamos perante a ressurreição, o que
no fundo significa, o triunfo sobre a morte. Então Deus, é o autor da vida e da
morte.
A
imortalidade nada tem a ver com a ressurreição da alma, no Livro da Sabedoria
(Sab) a imortalidade é o Homem estar diante de Deus como agradecimento, na
Graça e misericórdia.
A Escatologia no Novo Testamento
O Novo
Testamento só compreendido na sua plenitude, tendo por base toda a economia de
salvação que existe no Antigo Testamento, isto é, tudo aquilo que é narrado e
explicado pelos autores sagrados como verdadeira Palavra de Deus. Todo anúncio
da Palavra de Deus fica por se completar precisamente porque é anunciado
frequentemente a vinda de um Messias, que mais tarde se revela na pessoa de
Jesus Cristo.
Todo o
discurso messiânico de Jesus está em torno de tudo aquilo que é o Reino dos
céus, o Reino de Deus. Note-se que aqui, a palavra Reino, assume traços
categóricos naquilo que são os Evangelhos Sinópticos como também na maior parte
do discurso de Paulo e João, isto é, os apóstolos vão tentar decifrar que o
Reino dos céus se encontra já e agora na pessoa de Jesus.
Em
primeiro lugar, é fundamental compreender em que medida Jesus é o Reino, em que
medida Jesus assume e evidencia a Sua divindade, dito por outra forma, como
Jesus faz parte e é da mesma substancia que o Pai (ABBA) mesmo sendo “O Homem”,
e por ultimo, em que medida a Escatologia se centra e reincide na Pessoa de
Jesus Cristo (Cristologia). Efetivamente, se Deus participa na história da
humanidade como Aquele resgata da opressão, da violência, da escravidão o Seu
povo e lhes promete uma nova aliança, podemos constatar que o Reino de Deus
ganha alguns contornos naquilo que é liberdade no amor e obediência. (Cf Jer
31, 31-36).
É em
Jesus que mais evidente e claro se vê, a total obediência ao Pai, numa entrega
e doação livre onde a relação Homem-Deus, está presente desde sempre numa
relação entre Deus e o Seu povo. Jesus personifica toda a história e não deixa
dúvidas quanto a isso em nenhum momento. O importante em todo este
acontecimento é que o Reino de Deus não é algo meramente estático, é uma
relação dinâmica em que Jesus é a mediação do homem com Deus.
Em
diversas passagens do Novo Testamento, Jesus alude muitas vezes, através
parábolas e ensinamentos, ao Reino dos Céus que está próximo, que devemos
arrepender e acreditar no Evangelho (cf.Mc 1,15), significa que o Reino dos
Céus é permanentemente continuo e que não termina cronologicamente com a Sua
vinda, significa pois, que é diante do Senhor, diante da presença divina mais
evidente, que temos toda a esperança, que aquilo que era o Verbo, se torna a
própria Palavra na pessoa de Jesus e que é por Ele e diante d´Ele que acontece
a salvação – meta da escatologia. Significa que Jesus é Deus enquanto tal.
A
escatologia no Novo Testamento, não se prende, nem se compreende se for
entendida no presente e no futuro como uma espécie de escolha. O tempo para o
homem é cronológico, para Deus é o campo da Sua infinita misericórdia. Ora, se
Jesus afirma que virá brevemente (Ap 22,20), o Reino de Deus é o tempo da
salvação para o Homem, termina na parusia onde o Senhor virá para julgar os
vivos e os mortos.
Concluindo,
significa que na história os dados escatológicos por excelência são
1- --> A
identificação da Promessa com a Palavra que promete
2- --> A
revelação do carácter divino-pessoal
3- --> A
sua encarnação em Jesus de Nazaré
4- --> A
sua manifestação gloriosa no final dos tempos
Escatologia
Sistemática
Parúsia, Páscoa da Criação
Em
primeiro lugar importa sabermos o significado de parusia, que em muitos
contextos pode significar a vinda, a proximidade, a presença do divino na terra.
No contexto bíblico, nomeadamente NT, significa a vinda gloriosa de Cristo num
sentido da consumação dos tempos, em que pressupõe um Juízo Final.
Nos
Evangelhos Sinóticos, encontramos a expressão da “vinda do Filho do Homem”
(Mc13,16; Mt10,23; Lc18,8) que nos remete à pessoa de Jesus, como o «Enviado do
Pai». Importa aqui falar que a Parúsia não é meramente uma definição de um
acontecimento qualquer, é antes um acontecimento no tempo e na história, que é
sempre maior do que as palavras para o descrever. Em certo sentido a Parusia
assume um apoio e correlação da Escatologia, e dado que apesar de serem
distintos, são inseparáveis, a história não pode ficar de fora, não é possível
falarmos de escatologia ou parusia se não tivermos como base a história à qual
alguém ou algo, nos interpele ao seu carácter revelador. No Novo Testamento, a
vinda do Filho do Homem já era algo que fora profetizado pelos antigos profetas
e que “hoje” acontece em Cristo Jesus a maior prova da existência de Deus,
tanto que, não faria qualquer sentido o caracter revelador de Deus, senão
assumir a compreensão humana, isto é, fazer-se Homem e participando na história
como “O Homem”. Deus assume a Humanidade, e este é o acontecimento que ninguém
esperava, o mesmo Deus que falou pela Sagrada Escritura usando a linguagem
humana, é o mesmo Deus que assume a nossa natureza e se faz Servo.
Assim,
podemos dizer que toda a compreensão à volta do evento de Jesus Cristo (o
Ungido) é escatologia do mesmo Deus que vai desde o inicio da criação até à Sua
Páscoa (consumação), isto é, não se trata propriamente de um fim só porque
atinge como limite a morte, mas é morrendo que se nasce e renasce para a vida
propriamente dita.
Fazer
fiança em todos os acontecimentos, sinais e prodígios da intervenção de Deus na
humanidade, é a própria parusia que se funda essencialmente na Cristologia, que
vai sendo profetizada ao longo de todo o Antigo Testamento, e que esta não pode
enganar pois o maior acontecimento é muito maior que a realidade – Jesus
Cristo, Deus morre na Cruz para nos salvar e não há maior amor que dar a vida
pelos seus amigos (Cf.Jo15,13).
Jesus
vem para salvar, Deus intervém na história para salvar, assim aconteceu no
livro do êxodo, falamos do mesmo Deus objetivamente, a Salvação é feita pelo
juízo, não um juízo “penal”, mas um juízo de misericórdia, que não é mais que o
“tempo” que Deus permite à humanidade a conversão, que rigorosamente se trata
do Seu chamamento.
A Ressurreição dos mortos
Toda
Escritura está direcionada e não é mais que uma linda introdução à Paixão do
Senhor. Paulo é quem vive de forma exponencial, tudo aquilo que é a experiência
da ressurreição, isto é, Paulo vive em paralelo a tudo aquilo que é o evento histórico
da pessoa de Jesus Cristo, e é em Damasco se dá a maior controvérsia das suas
ideias e convicções, enfim, cai por terra tudo aquilo que aprendeu e
interpretou sobre a TORAH e tudo aquilo que tomava como infalível – o Farisaísmo.
Paulo é
confrontado com a dureza do seu coração, pela bruta perseguição contra o povo
de Deus, pelo mesmo Deus que é Jesus Cristo, o mesmo que liberta o seu povo das
mãos opressoras e escravizadoras dos reis do Egipto e Israel. Claro está que
Deus escreve direito por linhas tortas e serve-se de Paulo para Evangelizar,
isto é, levar a boa-noticia de que Deus vive e está no meio de nós. Não se
trata de informar, mas sim levar a todos os povos a experiência de um Deus que
reencarna e que vive em primeira pessoa, Jesus Cristo. A Morte não se dá em
Deus.
A estratégia
de Paulo de levar a boa-nova aos povos mais cultos, digamos assim, é porque ele
dominava aquilo que é um conjunto de línguas e recursos estilísticos capaz de
entender e fazer entender ao destinatário, toda a sua mensagem. Estamos a falar
de um poliglota persuasor da sua mensagem. Não admira o Apóstolo dirigir-se ás
comunidades gregas em que pelo menos afirmavam e reconheciam o homem, como
aquele que era composto de corpo e alma. É de fato uma ideia que hoje está
ultrapassada pois toda a antropologia humana recai numa antropologia
cristológica, isto é, o homem só se compreende à luz de Cristo – o
ressuscitado. A vida só tem sentido num plano salvífico, pois se assim não fosse
era preferível a não-consciência de semelhante.
Curiosamente
é uma das caraterísticas da Cristologia Paulina. Tudo ganha maior dimensão
naquilo que hoje denominamos de Mistério Pascal, ou seja, a Páscoa só se
compreende à luz de Cristo, pois à semelhança em que Deus, pela Sagrada
Escritura, pelos Santos Profetas, pede para que se marque em cada casa o Sangue
do Cordeiro como sacrifício e oferenda do Povo a Deus (Cf.Ex 12,7) é assim entendido
o mistério pascal em que o cordeiro de Deus é o próprio Jesus que se entrega
pela humanidade como oferenda de salvação a todos os Homens. Cumprimos ainda nos
dias de hoje, o facto de recebermos Deus nas nossas casas e consequentemente
nas nossas vidas.
Em
Cristo não existe a morte, não podemos falar de ressurreição senão tivermos em
plena consciência que a existência de Jesus ultrapassa toda a dimensão humana
(ainda que a respeite e balancei a sua divindade com a Sua e nossa humanidade)
e que é n´Ele que se dá toda a plenitude de Deus no carácter salvífico, isto é,
Jesus é a prova que Deus tem o poder sobre a vida e a morte.
A Igreja
nos dias de hoje, é aquela que em bom rigor se trata da nova aliança, isto é,
todos aqueles na sua liberdade acolhem o Deus vivo e são parte integrante
daquilo que é Corpo de Cristo. Cristo é a unidade, é através d´Ele e por Ele
que se dá a nova aliança da relação filial do Homem com Deus.
A Nova Criação
Aqui
coloca-se a questão de como será a nova criação, ou seja, se Deus atua na
história da humanidade, espera-se, portanto, que será uma história em que o seu
propósito é a própria comunhão com e em Deus. Não podemos esperar um mundo fictício
onde este não tenha qualquer importância ou relevância para o mesmo Deus que
salva, pois caso contrário não há “genesis” que resista. Todo pormenor da
criação seria completamente em vão ou alheio à própria criação se esta não
fosse vista para a ressurreição, isto é, sem cair numa espécie de naturalismo
exagerado, o mundo é feito para a ressurreição, para uma nova vida enquanto tal,
é precisamente Cristo que rompe com as portas do fim da vida propriamente dito,
é em Cristo que se dá o (re)surgimento de uma nova aliança, não só com o mundo
mas também naquilo que é a relação do Homem-Deus. É a (re)criação do jardim do
éden.
Portanto,
toda a conceção de nova criação não pressupõe a destruição de um mundo e a criação
de outro, mas sim, a vida vista como gratuidade do Amor de Deus onde a vida
perfeita coincide com a vida plena, a vida em Cristo.