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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A Bíblia ou Sagrada Escritura


A Bíblia é um livro difícil de ser explicado sobretudo por ser uma palavra humana. Falar de Deus caímos no erro do antropomorfismo, ou seja, falar de Deus pelas nossas categorias.
Todavia, não são os estudos mais aprofundados sobre a bíblia nem ouvir a palavra de Deus que está por detrás das palavras humanas, que vamos entrar em sintonia com Deus. É sobretudo pela oração na fé, descobrirmos quem é esse que nos transcende.

O povo de Deus sempre teve consciência de que Ele se lhe manifestava na história concreta. Por isso os profetas apresentam-se ao povo como as mais qualificadas testemunhas de uma palavra dita por Deus a Israel, e como interpretes qualificados dos acontecimentos históricos, nos quais também Deus se integra para falar com o seu povo. Deste modo, o Deus da bíblia é um Deus-falante, um Deus interveniente na história, um Deus que nunca se cala por chamar o seu povo à salvação.

Cristo, filho de Deus-falante que se fez homem, será chamado Logos = palavra, porque disse e testemunhou tudo quanto viu e ouviu da parte do pai e os apóstolos apresentam-se como testemunhas, não só das palavras de Cristo, mas também de todos os acontecimentos da sua história terrena.
Os modernos estudos sobre a linguagem dizem que a palavra é um facto interpessoal, um ser para o outro de modo a estabelecer uma mensagem. A palavra torna-se pois um veiculo de entrega do mistério de uma pessoa a outra. 
O grau máximo da comunicação interpessoal pela palavra é a do Logos (palavra eterna) que, de tal modo se entregou aos homens, que Ele próprio (Deus) se fez homem em Jesus Cristo. No entanto, não o recebemos, recusamos o dialogo que Deus quis manifestar e comunicar-se.
A palavra embora não elimine completamente a distância que separa o homem do seu Deus, encurta tal distancia e faz com que, por meio de tal gesto gratuito e amoroso ele se torne o Emanuel. Se Deus se revela na e pela palavra, é para tornar o homem participante da sua vida divina. A revelação de Deus em Jesus De Nazaré torna-se uma auto-doação do próprio Deus ao Homem de tal modo atinge o seu máximo grau de amor quando Jesus morre crucificado.

Por isso a palavra de Deus pronunciada na Cruz é essencialmente ambivalente e paradoxal: por um lado significa tragédia do corte da ligação entre emissor-Deus e receptor-homem e por outro lado, exprime a sumidade do amor, a Palavra mais significativa alguma vez dita por Deus a toda humanidade. Revelação por parte de Deus e obediência da fé por parte do homem, são os dois elementos essenciais para existir comunicação entre o homem e Deus porque as leis da comunicação da palavra de Deus não são iguais as leis da comunicação da palavra humana e ainda bem.

O DINAMISMO INTERNO DA PALAVRA DE DEUS

Só Deus pode iniciar todo este processo: alto-baixo (Deus-homem), de seguida Homem-homem, baixo-alto. A palavra de Deus que desce em favor do homem, realiza-se de diferentes maneiras ao longo da história da salvação mas assume a sua realização plena em Jesus, palavra encarnada (logos). Por outro lado esta palavra só pode ser elevada a Deus depois de se realizar para com os outros homens, ou seja, só a palavra que foi filtrada pelo amor ao irmão pode ter eco no coração de Deus-amor. Neste processo de dialogo é sempre Deus que o alimenta pela fé e o homem é naturalmente renitente em manter o dialogo com o Deus que se "mostra". É aqui que reside o pecado mais grave do homem porque em vez do homem dialogar com este Deus da bíblia, prefere o monologo simples, adoração de ídolos, a oração de uma suplica a um Deus transcendente (que nos ultrapassa).
A palavra de Deus é apelo permanente a compromissos concretos que nos levam a decidir com coerência os projectos de Deus, só que infelizmente o homem não consegue aceitar planos que não sejam os seus. Portanto, a linguagem da revelação não difere muito da linguagem do amor que tem como características fundamentais o acolhimento, o dialogo, a reciprocidade e a comunhão profunda entre duas pessoas.

PERÍODO APOSTÓLICO 

Caracteriza-se pelo nascimento do Novo Testamento como escritura, a começar pelas cartas de S.Paulo, pelos quatro evangelhos e pelos outros escritos do Novo Testamento. O grande problema para os primeiros cristãos foi precisamente o que saber fazer com o Novo Testamento, se o junta ao Antigo ou se este é eliminado. Dito doutra maneira, ou Moisés ou Cristo. Deixar de ser judeu para ser cristão? Ou ser cristão e continuar a ser Judeu?

Segundo Paulo, diz que a Igreja do Novo Testamento é a Nova Israel. Para ele existe má continuidade orgânica entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento e uma interdependência mutua. Cristo ilumina o Antigo Testamento e o Novo Testamento tem as suas raízes no Antigo Testamento.
Não devemos esquecer um outro principio que orientou os primeiros cristãos, no que diz respeito a Palavra.... É o critério da TRADIÇÃO APOSTÓLICA - categoria teológica que se refere a doutrina de Jesus transmitida fiel e eficazmente pelos apóstolos. Eles são os canais puros e límpidos da transmissão da revelação de Deus aos Homens, que transparece na pessoa de Jesus.
É efectivamente, este critério da "apostolicidade" dos escritos do Novo Testamento que vai ter má importância decisiva na determinação nos livros considerados inspirados - cânon do Novo Testamento. A consciência da inspiração do Antigo Testamento para ao Novo Testamento foi apenas um passo. Se os apóstolos transmitiram fielmente a palavra de Jesus, os seus livros ou a eles atribuídos porque escritos na sua dependência, serão também inspirados pelo Espirito Santo apesar da oralidade ser muito mais frequente que a escrita.
Nesta altura não faltava quem se armava em profeta e comentador da palavra e era necessário saber quem era a favor da igreja ou não, e por isso era necessário encontrar normas, regras da fé e são elas as seguites:
1- tradição apostólica como sinal de presença do espirito de Jesus na Igreja ;
2- inspiração como grande verdade de Deus presente na bíblia ;
3- cânon 
4- leitura do Antigo Testamento pela perspectiva do Novo Testamento.

QUAL ERA O CANNON DOS LIVROS INSPIRADOS NO TEMPO DE JESUS?

É sabido que a época apostólica e patrística se caracterizavam pelo grande esforço em determinar quais os livros considerados inspirados por Deus. A grande pergunta seria qual era a bíblia cristã?
Certamente e sem margem para duvidas ou contestações por escolas do judaísmo, os livros inspirados no tempo de Jesus era o Pentateuco, que são o que de mais sagrado os judeus tinham juntamente com o templo de Jerusalém. Os outros livros da bíblia receberam a dominação genérica de Profetas.
Por volta do ano 130 a.C é-nos testemunhado no prólogo de Ben-sirá:  
" Muitos e excelentes ensinamentos nos foram transmitidos pela LEI, pelos PROFETAS e por outros ESCRITOS que lhes seguiram " 

Esta menção de escritos leva-nos a considerar uma outra divisão dos livros da Bíblia, existente antes e depois de Cristo no Judaísmo: Lei, profetas e escritos (Torah, Nebiim, Ketubiim, que é costume resumir em TANAK). 
Os Escritos seriam, portanto, os Salmos, os Provérbios, Job, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester (até 10,3), Daniel (excepto algumas partes deuteronomio-canónicas) Esdras, Neemias e 1 e 2 Crónicas. A Bíblia Grega ou dos LXX, acabada no séc.I a.C, já os inclui a todos e os apóstolos não tiveram dificuldadem em aceitar.

QUANDO FOI FEITA A LISTA DEFINITIVA DOS LIVROS DA BÍBLIA?

Podemos considerar que em Israel, a consciência de um determinado conjunto de livros considerados como palavra de Deus existira desde muito cedo. Porém, só ao fim de séculos de reflexão é que se chegou a consciência que só alguns livros eram tomados como verdadeira palavra de Deus, ou seja, livros inspirados, são chamados os livros canónicos.
Porque é que os judeus da palestina eliminaram alguns livros dizendo que não eram inspirados?
Primeiro queriam que um homem santo ou um profeta assegurasse que só alguns livros eram inspirados por Deus, como se a inteligência absoluta dependesse dele e não foi desde logo aceite pelo povo. O segundo motivo tem a ver com a Terra Santa, porque os livros nevariam ser só escritos na terra de Israel. Ora tal facto leva-nos a dizer que Deus só fala para alguns e não para todos, privando-O d sua liberdade e vontade de se manifestar a todos os Homens. Por ultimo, o critério do cânone que não existia, pelo menos um concreto. No tempo de Jesus não havia um cânone definido nem concreto da lista dos livros da Sagrada Escritura.

A partir da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C, os mestres judeus fundaram uma espécie de escola teológica onde tentaram criar um cânone eliminando os do segundo cânone (Deutero-canónicos) em reacção contra o Cristianismo. Dizendo para eles que a Lei é aquela que sempre tiveram e nada se acrescenta. Ora esta bíblia foi aquela que Martinho Lutero e as outra igrejas tomaram no século XVI. Isto quanto ao Antigo Testamento.

COMO NASCEU O CÂNONE DO NOVO TESTAMENTO?

Com o desaparecimento dos primeiros apóstolos e dos seus companheiros, começa-se a sentir a necessidade de textos escritos autênticos que fixem para sempre as palavras do SENHOR, que são palavras de vida, santificam e dão sentido.
O cânone do Novo Testamento nasce a partir de dois grande conjuntos de livros: as cartas de Paulo que desde muito cedo e tornaram livros inspirados devido à leitura publica que se fazia nas assembleias liturgias e o conjunto dos 4 Evangelhos.
Nesta altura começa a sentir-se a necessidade de criar uma lista de livros que tivesse origem apostólica, isto porque começaram a existir grupos heréticos sem escrúpulos que falavam em nome dos apóstolos   Sobre a vida de Jesus. Não foi fácil resolver este problema na altura, e só se resolveu atribuindo aos textos um principio de conteúdo teológico para determinar a canonicidade dos textos, era simplesmente o seu uso liturgico.
Firmadas as certezas e vencidas certas duvidas a respeito de alguns livros, chegamos ao século IV, e é aqui que se consolida e se define o cânon praticamente como o temos hoje, tanto do Antigo como do Novo Testamento.
A necessidade de afirmar esta universalidade da Igreja e unidade da Igreja levou a o concilio Vaticano II a encorajar edições da bíblia chamadas ecuménicas ou interconfessionais, editadas juntamente por católicos e protestantes. O que mais interessa hoje não é saber quem tem pião razão, mas o mais importante é viver a palavra de Deus que realmente é em ambas, é isto que o Senho nos fala.

A BÍBLIA E OS TEÓLOGOS

Os métodos da interpretação da bíblia continuam a ser os da patrística: vejamos o termo Jerusalém no sentido:
Literal - indica a cidade histórica de Jerusalém
Alegórico - indica a Igreja
Moral - indica a minha ligação com Deus
Anagógico - significa a Jerusalém Celeste.

PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS DE LUTERO

Teremos que ter em conta que não foi ele quem começou o movimento de desagregação do papado. Tão pouco foi Martinho Lutero quem traduziu a bíblia para as línguas modernas, no entanto, temos de reconhecer a Lutero, o grande mérito de ver o Cristianismo através do espelho da palavra de Deus.

A) a Escritura, centro de vida da Igreja
Somente a Sagrada Escritura que tem a centralide absoluta e a absoluta superioridade na existência Cristã e no trabalho do Teólogo. O que Lutero faz é considerar a Sagrada Escritura como algo absoluto. Todas as outras ciências devem curvar-se perante a autoridade da Escritura. O mal de Lutero está também em considerar a Escritura apenas e só a Bíblia escrita, mas onde paira sobre ela o Espirito Santo para ele?... 

B) a Apostolicidade da Escritura
Para Lutero a palavra tem dois sentidos bem diferentes dos tradicionais: palavra escrita e a palavra dita. A palavra escrita é normal da palavra oral, ou seja, só se escreve aquilo que se diz. Mas reconhece também que, ao principio, a palavra foi oral e só por razoes de necessidade é que a palavra foi escrita. O valor da norma vem da apostolicidade que significa um permanente apelo e ligação a Cristo e torna-se comunicação de Cristo aos seus discípulos. Aqui se encontra, portanto, a ligação estreita ente sagrada escritura e Jesus Cristo. Diz ele que Cristo é rei e Senhor da Sagrada Escritura, assim como critério decisivo da sua autenticidade, isto é, só o que fala de Jesus Cristo é verdade indiscutível.
Ora geral critério é m perigo para a Sagrada Escritura porque todos os textos que não anunciem Cristo deixam de ter autenticidade.

C) Autoridade da Sagrada Escritura
é a igreja que deve obedecer á Escritura, este é o principio de autopistia, ou seja, a Escritura é credível em si mesma, logo interpreta-se a si mesma. Lutero da uma explicação deste principio: se foi o Espirito que inspirou a palavra de Deus, é Ele o único que é qualificado para interpretar. Ora tal explicação leva ao homem obedecer a fé só porque tem de ser e tira-nos a liberdade, já para não dizer que é completamente arbitrário decidir-se por quem fala.
Lutero entende a apostolicidade não no sentido histórico mas no sentido cristologico.. Tudo o que fala de Cristo é apostólico e o que não fala não é.

Aqui desaparece a força da TRADIÇÃO para a formação do cânon dos livros inspirados, assim como o principio de catolicidade. Para Lutero "sola fidei".
Outro principio importante da visão bíblica de Lutero é o da "sola gratia", ou seja, só a graça importa, é a fé na Palavra e a acção do Espirito Santo.
Outro principio é o da "sola escriptura", cada indivíduo encontra na Bíblia sem a Tradição da Igreja e do seu Magistério, o caminho para a salvação.

A QUE SE CHAMA LIVROS DEUTERO-CANÓNICOS

São os livros sobre os quais se pesou algumas duvidas acerca da sua canonicidade e por isso não fazem parte dos livros considerados inspirados nas Bíblias protestantes. Mas PORQUE?
Porque seguiram rigorosamente a Bíblia Hebraica.

A Bíblia dos XLL, assim chamada devido a uma lenda que referia setenta tradutores do texto hebraico, não se ficou por uma simples tradução. Além de muitas liberdades de interpretação, em certas passagens consideradas difíceis, os seus autores inseriram outros livros que consideravam como Palavra de Deus. Aparecendo nos séculos III-I a.C, os seus livros próprios (Deutero-canónicos) são tão antigos como os outros da Bíblia Hebraica da Palestina.